terça-feira, 24 de maio de 2011


Ah, quanta vez, na hora suave

Em que me esqueço,

Vejo passar um vôo de ave

E me entristeço!

Porque é ligeiro, leve, certo

No ar de amavio?

Porque vai sob o céu aberto

Sem um desvio?

Porque ter asas simboliza

A liberdade

Que a vida nega e a alma precisa?

Sei que me invade

Um horror de me ter que cobre

Como uma cheia

Meu coração, e entorna sobre

Minh’alma alheia

Um desejo, não de ser ave,

Mas de poder

Ter não sei quê do vôo suave

Dentro do meu ser.”


(Fernando Pessoa)